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GABINETE DO REPRESENTANTE DA REPÚBLICA

PARA A REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES

SOLAR DA MADRE DE DEUS

ANGRA DO HEROÍSMO


Sessão Comemorativa do Início das Emissões da TDM há 35 anos com o apoio da RTP

 

Conferência Auditório RTP

 Macau Convivências

 

Agradeço o convite para usar da palavra, uma distinção pessoal que muito me honra e que eu tomo como uma distinção à diplomacia portuguesa e ao seu papel no processo de Macau, nem sempre reconhecido.

E, no entanto … foi o notável trabalho desenvolvido pela diplomacia no quadro da política externa definida pelo Governo que esteve na base da construção da Declaração Conjunta, e depois, no diálogo com a parte chinesa, durante os 12 anos do período de transição.

Deu assim um valioso contributo para que fosse assegurado o espaço necessário para o exercício da Administração portuguesa do território e garantida a continuidade do que construímos em Macau, para além de 20 de dezembro de 1999.

Comemoramos hoje os 35 anos da TDM, criada em maio de 1984, sendo Governador de Macau o Almirante Almeida e Costa, que infelizmente já não está entre nós.

Tive o privilégio de trabalhar de perto com ele quando desempenhei funções de Cônsul Geral em Hong Kong até finais de dezembro de 1982.

Ambos tínhamos ideias e convicções fortes, eu, quanto às relações externas e, ele, quanto à governação de Macau – matérias intimamente ligadas.

Convergíamos no desejo de fazer de Macau um centro de cultura latina onde pudessem florescer iniciativas que marcassem a diferença, com um valor acrescentado para o território e para o nosso país e para a própria China.

Evidentemente, a cultura portuguesa e a sua coexistência e interação com a cultura chinesa, estava no primeiro plano das nossas mentes.

O Almirante Almeida e Costa avançou com a sua ideia de criar uma TV em Macau, um veículo extraordinário para a difusão de uma língua e de uma cultura.

Deixo-vos aqui algumas reflexões.

Aquando do restabelecimento das relações diplomáticas com Portugal e nas negociações para a Declaração Conjunta, o Governo chinês insistiu em colocar o nosso relacionamento numa perspetiva de futuro.

Para a parte chinesa, 8 de fevereiro de 1979, data do restabelecimento das relações diplomáticas, era um marco que assinalava uma nova era nas nossas relações.

Da nossa parte, soubemos compreender as sensibilidades chinesas quanto à delicadeza da evocação de um passado que marcou um período negro da sua história e que os chineses associavam às intervenções estrangeiras, ao imperialismo económico e a um poder militar impiedoso.

E embora nada disso tenha caracterizado o nosso relacionamento de quatro séculos e meio – como é que isso seria possível no caso de um país tão pequeno e longínquo como o nosso, perante o gigante que era a China – aceitámos em valorizar o nosso relacionamento mútuo no presente, que estávamos a viver e no futuro, que estávamos a construir.

Quanto à História, era preciso atuarmos, junto dos diversos níveis da sociedade, com tato e modéstia e procurarmos paciente e inteligentemente melhorar a compreensão e conhecimento mútuos e assim valorizarmos, naturalmente e sem preconceitos, os elementos diferenciadores da nossa História comum.

Podemo-nos congratular hoje com o facto de a nossa história contemporânea dos últimos 40 anos, ter criado as condições para a China poder potenciar o papel de Macau na estratégia do seu relacionamento externo, valorizando ao mesmo tempo o fator histórico nas suas relações recíprocas com o nosso país.

Para este contexto, contribuiu certamente a nossa atitude, mas também a evolução da China, a sua visão da História e a sua perceção dos interesses próprios.

A mudança profunda da China de hoje é ao mesmo tempo um regresso e uma retoma de uma China ancestral e eterna.

A China começa a ver na História motivos de inspiração e sinais da grandeza do país. Veja-se a recuperação da Rota da Seda.

Em relação a Macau, desde cedo a China reconheceu a importância e benefícios que poderiam resultar da singularidade e identidade própria daquele território, da sua vocação histórica de entreposto comercial, de ponte e plataforma para contactos e negócios, especialmente com os países lusófonos e da sua utilização como centro de difusão da língua portuguesa e como ponto de encontro de culturas e povos.

O Governo central chinês, no seu pragmatismo e visão de longo prazo, viu que só havia vantagens em que fosse aproveitado e valorizado o nosso legado histórico e cultural e a presença em Macau de uma comunidade portuguesa.

Macau ganharia assim uma maior capacidade de atração e uma capacidade de irradiação que a China como país global, não deveria deixar de aproveitar.

Esta posição da China, que levou nomeadamente ao pedido à UNESCO para a declaração do centro histórico de Macau como património da Humanidade, foi objeto de encorajamento e apoio junto da Região Administrativa Especial de Macau e seus órgãos de poder, que têm seguido uma política convergente com a linha de pensamento de Pequim.

E aqui chegamos ao importantíssimo papel da Teledifusão de Macau (TDM) como instrumento para o reforço, não só dos elementos diferenciadores da identidade de Macau que são sobretudo língua, a história e a cultura, mas também para o reforço do conhecimento mútuo entre Macau, Portugal e a China.

Vou apenas referir brevemente o fator da língua.

É para mim um orgulho, que tenha sido no período em que chefiei a parte portuguesa do Grupo de Ligação Conjunto e no seguimento dos contactos diretos com o meu homólogo, Embaixador Kang Jimin, que chegámos a um entendimento segundo o qual a parte chinesa aceitaria que a língua portuguesa seria língua oficial da Região Administrativa Especial de Macau e como tal reconhecida pela Lei Básica.

(Note-se que a Declaração Conjunta não considera o português como língua oficial.)

Em contrapartida, nós aceitaríamos que a língua chinesa fosse desde logo declarada língua oficial em Macau.

Este entendimento foi formalizado num protocolo assinado pelos Ministros João de Deus Pinheiro e Qian Qichen, numa visita deste último a Lisboa, em fevereiro de 1991 e objeto de um Decreto-Lei do Governo português em dezembro do mesmo ano.

Foi um passo de importância histórica, com um alcance de longo prazo. Fez a diferença.

Macau não seria o que é hoje. em resiliência e pro

Foi aquilo a que os Chineses de hoje gostam de chamar, um acordo “win-win”.

O processo de transição foi, por seu lado, facilitado e clarificado com a oficialização do chinês.

Macau é hoje um centro importante de difusão da língua portuguesa, que transcende os limites da Região Administrativa Especial de Macau.

Na China mais de trinta universidades têm cursos de português.

 A língua portuguesa é vista como representando para os seus falantes uma vantagem competitiva, a nível global., com importância global, fala

Mas precisamos de ser pró-ativos e de investir decididamente no ensino e divulgação da língua., criando incentivos, estabelecendo protocolos,

Língua e ensino são cultura, mas também são economia.

É importante igualmente que haja a mesma perceção em relação à aprendizagem da língua chinesa. Macau, pelos.

No mundo de hoje, o bilinguismo é melhor que o unilinguismo, diria mesmo um requisito essencial para o desempenho de muitas atividades profissionais.

E é importante para a convivência e bom entendimento entre comunidades que vivem e trabalham no mesmo espaço. O conhecimento linguístico é uma estrada de dois sentidos.

No caso de Macau, arrisco-me a dizer, que o trilinguísmo é melhor do que o bilinguismo e que o conhecimento de uma 2ª. ou 3ª. língua, não desvaloriza a 1ª., antes pelo contrário.

Os portugueses vivendo em Macau devem ter disso plena consciência, nomeadamente quanto à educação dos filhos.

Permitam-me que me dirija ao Presidente e a todo o pessoal da TDM.

Muitos parabéns pelo vosso 35º. Aniversário e pelo bom trabalho já realizado.

A tarefa à vossa frente é imensa.

Os desafios não têm limites. Oportunidades e possíveis c

Don’t think small

Sejam ambiciosos, inovadores, criativos.

E desempenhem a vossa missão com entusiasmo e orgulho.

Assim honrarão a memória de Vasco da Gama e Fernão de Magalhães que abriram o Oriente ao Ocidente, e o Ocidente ao Oriente.

Sem instrumentos comparáveis com os vossos.

 

Muito obrigado.

 

Pedro Catarino

 

Lisboa, 6 de maio de 2019