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MENSAGEM DE ANO NOVO

 

DO

 

REPRESENTANTE DA REPÚBLICA

 

PARA A REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES

 

 

2006/2007

 

            Ao Povo Açoriano, dirijo, pela primeira vez, uma Mensagem de Ano Novo.

          E com este gesto estou a cumprir uma tradição.

         Tradição que vem dos meus antecessores Ministros da República para a Região Autónoma dos Açores.

         É agora o Representante da República para a Região Autónoma dos Açores que se dirige ao Povo Açoriano, apropriando-se dessa tradição, mas encarnando o mesmo espírito, ou seja, o de comungar com os Açorianos esta Quadra Festiva na qual todos nos saudamos e nos desejamos os maiores êxitos e as maiores venturas.

         Faço-o no cumprimento de uma obrigação – essa tradição – mas faço-o também, e sobretudo, no cumprimento de uma devoção: - a devoção aos Açores e ao seu Povo.

         Não é uma frase de circunstância, nem uma figura de retórica. Já vai a caminho do meio século a minha ligação profunda aos Açores.

         Não sendo muito tempo na vida de um Povo, é muito tempo na vida de um Homem.

         Nos Açores sinto-me em família: se não em família de nascimento – ninguém nasce onde quer, mas onde quiseram que nascesse – ao menos em família de adopção.

         Nesta Quadra da Família, quadra bem esta Mensagem à Família Açoriana a que, eu e os meus, nos orgulhamos de pertencer.

         Nesta conformidade, aos poucos meses que levo no exercício do cargo somam-se as décadas que levo de açorianidade, o que me permite afirmar fundadamente o meu conhecimento da realidade açoriana, da sua geografia, dos seus mares e da sua meteorologia, das suas dificuldades, dos seus percursos, das suas ansiedades e das suas esperanças.

         Vivemos um tempo em que as distâncias - as ultraperiferias - representam um pesado encargo para as economias, quer pelo tempo de demora nos caminhos dos grandes centros, quer pelos sobrecustos dos transportes de e para os mercados, quer pela onerosidade dos contactos com outros povos e outras gentes.

         E se a informação e o conhecimento navegam hoje pelo éter à velocidade da luz, a verdade é que os produtos e as mercadorias, se não navegam já à vela, pouco ganharam à caravela.

         E as pessoas – que também hoje releva o mercado das pessoas – sendo embora homens livres, e nesse aspecto fora do mercado, têm mil e um destinos de baixo custo e de aparente igual aprazimento.

         Vende-se melhor o sol e a areia, o exótico e o monumental arquitectónico.

         Mas perde-se o verde e o céu, o vento e o mar deste paraíso ilhéu.

         Perde-se até se conhecer, o que torna imperioso que se leve ao conhecimento, e para isso é preciso ser imaginativo, ser esforçado, ser criativo e ser ousado.

         E a resistência da ultraperiferia não ajuda.

         Mas a ultraperiferia dos Açores é um prejuízo que nos habituámos a ver como uma inevitabilidade, uma condenação ou uma fatalidade.

         Nada menos exacto.

         O Mundo mudou. E se nem sempre mudou para melhor, aproveite-se da mudança o que o novo paradigma tem para nos oferecer, porque a novidade tem sempre oferta nova.

         O fantasma da mundialização, com os seus medos e os seus assombros – os seus Adamastores – veio neste ponto a desmentir a fatalidade da ultraperiferia.

         Os Açores não são mais o ponto mais ocidental, a cauda da Europa, mas antes o centro do Mundo que agora é global e intercontinental.

         Por outro lado, a Europa em que nos integramos tem hoje na sua Agenda a definição de uma Política Marítima Europeia que passa necessariamente pelo aproveitamento e valorização dos Açores com a imensidão e a riqueza dos seus mares. A sua zona económica exclusiva é algo de muito valioso que os Açores oferecem à Europa, mas que, por ser sua pertença, a Europa deve devolver aos Açores em medida equitativa e proporcional ao seu contributo. O mar deixou de ser fronteira e distância para voltar a ser caminho de comércio e de esperança.

         E é aqui que este porta-aviões no Atlântico, entre a Velha Europa e os Novos Mundos, vem a ganhar a centralidade que lhe abre novos horizontes, lhe volta a traçar novos caminhos e lhe potencia novos destinos.

         Deus ao mar o medo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu – disse o Poeta.

         O Ano de 2006 foi já um ano de mudanças no plano político-normativo: - a Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa, a lei das Finanças Regionais, a Lei das Finanças Locais.

         O Ano de 2007, que agora entra, irá completar esta arquitectura jurídico-constitucional com as alterações que seguramente ocorrerão no Estatuto Político Administrativo da Região Autónoma dos Açores.

         Todas estas leis são instrumentos úteis e necessários de mudança, de progresso e de desenvolvimento.

         São instrumentos vitais ao aprofundamento da Autonomia Regional.

         Mas não nos iludamos.

         As leis e as políticas não mudam tudo, se não mudarmos também os nossos gestos, as nossas atitudes, os nossos desígnios e os nossos compromissos com o futuro.

         As leis apenas apontam, potenciam, permitem ou insinuam caminhos de mudança e de progresso.

         Mas é preciso andar esses caminhos, caminhá-los passo a passo, sempre em frente, sob pena de ziguezaguearmos sem rumo e sem destino.

         Vamos todos caminhá-los, se não de mãos dadas, ao menos lado a lado, reunindo vontades, talentos e esforços na construção do nosso destino comum.

         Tenho nisso fundadas esperanças; - fundadas, porque assentes nos caminhos já percorridos e nas experiências já vividas; esperanças, porque os sonhos nunca morrem.

         A todos os Açorianos, de nascimento ou de coração, nestas pedras do mar ou nas sete partidas aonde chegaram, eu quero aqui deixar, além desta palavra de esperança, outra ainda de saudação e de homenagem pela marca indelével que no Mundo foram deixando, a testemunhar, não apenas a sua identidade, mas também a força da sua vontade, da sua têmpera, da sua cultura, da sua personalidade – enfim da sua Açorianidade.

         Que o ano de 2007 seja para todos o que cada um para si desejar, sem esquecer que para o merecer algo terá também que fazer, não bastando apenas sonhar.

         São os meus votos de Feliz Ano Novo.