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GABINETE DO REPRESENTANTE DA REPÚBLICA

PARA A REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES

SOLAR DA MADRE DE DEUS

ANGRA DO HEROÍSMO




 

INTERVENÇÃO POR OCASIÃO DO EXERCÍCIO “AÇOR 19” NA ILHA DO CORVO


Senhor Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas

 

 

Muito obrigado pelo seu honroso convite para presidir à presente cerimónia.

Faço-o com muito gosto e com a plena consciência de que se trata para mim de uma obrigação funcional indeclinável.

Permita-me que o felicite pela presente iniciativa, que tem um significado altamente simbólico e que é ao mesmo tempo a expressão de um empenhamento das Forças Armadas na garantia da integridade do território nacional e da proteção de todos os portugueses nele residentes, reforçando assim a coesão nacional e o sentimento de solidariedade e de pertença à mesma comunidade.

Gostaria de, nesta ocasião, dirigir uma saudação muito cordial a todos os corvinos, aqui nascidos ou aqui residentes.

É sempre com emoção que piso o solo desta ilha (é a quarta vez que o faço) e vem-me sempre à memória o episódio passado em 1886 aquando da visita ao Corvo do então Governador do Distrito da Horta.

A uma sua pergunta sobre as necessidades e aspirações dos corvinos foi-lhe respondido que o que mais desejavam era uma Bandeira de Portugal.

Senhor Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas.

Permita-me que sublinhe a grande admiração que tenho pelos Corvinos.

É preciso, com efeito, uma grande força de carácter e um ânimo forte para se viver num espaço tão exíguo e tão isolado e por vezes sujeito a condições climáticas tão agrestes. São, contudo,  muitas vezes, as situações extremas que nos levam à descoberta de nós próprios e do sentido da vida e que despertam em nós energias e qualidades até então insuspeitadas.

Descoberto em 1452 por Diogo de Teive e começado a povoar logo a partir do ano seguinte, é difícil imaginar as condições de vida a que tiveram de se sujeitar os primeiros povoadores do Corvo, dando provas de um espírito de sacrifício e de uma resiliência que tocam as raias de uma heroicidade que nos espanta.

Mas o que é certo é que mantiveram sempre uma presença portuguesa significativa, chegando o Corvo a ter mais de mil habitantes.

As condições de hoje são bem diferentes e o isolamento é atenuado pela facilidade de comunicações.

O conforto das casas, as ligações por via aérea e marítima, os serviços de educação e saúde, o acesso à Internet e à rádio e televisão, tornam a vida dos corvinos bem mais aceitável e confortável, embora muito haja ainda por fazer.

Sobretudo dá-lhes a possibilidade de não já focarem as suas vidas num quotidiano quase exclusivamente dedicado à sua sobrevivência, como no passado, mas oferece-lhes horizontes bem mais largos quanto às possibilidades de uma melhoria da qualidade das suas vidas, para si e para as novas gerações.

 Mesmo assim permanece o espaço exíguo, uma convivência humana limitada e o isolamento geográfico.

Necessitam, pois que lhes sejam proporcionadas as condições básicas para uma vida saudável, estimulante e integrada no todo nacional, de que todos os portugueses devem poder usufruir.

É uma obrigação que impende sobre todos os seus compatriotas, sobre todos os portugueses, açorianos ou não.

Para isso precisamos antes de mais de melhor conhecer os corvinos, de lhes dar voz e de os ouvir, um a um, se for possível.

Precisamos de compreender as suas condições de vida, as suas dificuldades, as suas expectativas, os seus anseios, as suas ideias.

Precisamos de saber o seu nível de educação, as características dos seus agregados familiares, as suas competências profissionais, as suas atividades, nomeadamente quanto aos seus tempos livres.

Tudo isto para melhor os ajudarmos, para reforçarmos as suas capacidades individuais e coletivas, para dar mais solidez ao sentimento da comunidade local e tornar esta mais eficiente e produtiva.

É um trabalho simples e complicado ao mesmo tempo.

É preciso, do lado da população, uma atitude aberta e confiante e do lado das entidades públicas e privadas com competências e responsabilidades no sector social uma dedicação desinteressada em prol do bem comum e do próximo e um respeito escrupuloso pela privacidade individual das pessoas.

Deixo aqui o repto para que uma instituição como a Universidade dos Açores possa tomar a iniciativa de um projeto com tal objetivo com a colaboração, nomeadamente, dos Serviços do Governo Regional, da Autarquia, das autoridades Eclesiásticas, do corpo docente da Escola Básica e Secundária Mouzinho da Silveira e dos elementos mais destacados da população do Corvo.

A presente cerimónia e o exercício militar que aqui teve lugar, Senhor Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, vem ao encontro do desejo e objetivo de pôr os Corvinos no centro do nosso coração e dos nossos propósitos. É bom que tal aconteça e que os Corvinos o sintam.

Em qualquer sociedade, a paz e a segurança são fatores fundamentais em que assentam todos os elementos respeitantes à evolução de uma comunidade.

Sem paz e segurança não pode haver progresso social e económico, não pode haver avanços civilizacionais, nem a realização pessoal de cada um de nós é possível.

Temos a felicidade de hoje vivermos, no espaço geográfico em que nos situamos, num período de paz e estabilidade, sem ameaças próximas significativas.

É um bem inestimável.

Basta pensarmos nos horrores das guerras do século passado com toda a destruição, mortes e sofrimento causados a tantos milhões de pessoas.

São as Forças Armadas que constituem o garante da paz e da segurança.

São elas que garantem a integridade do território nacional e o respeito pelas nossas instituições e pelo quadro constitucional e democrático em que elas funcionam.

A sua presença hoje aqui na Ilha do Corvo, Senhor Almirante, é a demonstração do seu empenhamento em que a referida garantia e proteção sejam sentidas em todos os cantos do território nacional, sem deixar de fora qualquer centímetro quadrado ou cúbico, seja ele de terra, de mar ou de ar, que seja parte do nosso país, nem qualquer português ou qualquer cidadão que nele resida.

Todos sem exceção têm o direito à proteção das Forças Armadas e, não esqueçamos, o dever de lhes dar o apoio que for necessário em qualquer circunstância.

Nunca nos podemos esquecer que a dedicação das Forças Armadas às suas missões pode, e quantas vezes isso não sucedeu, implicar o supremo sacrifício da vida dos seus membros.

O que é que mais pode merecer o nosso respeito e o nosso reconhecimento?

Senhor Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas

A sua vinda ao Corvo, a este bastião e fronteira ocidental terrestre de Portugal, que marca também a nossa fronteira marítima, a estes 17 quilómetros quadrados de rocha e terra, a esta pequena parcela do território nacional onde habitam e labutam pouco mais de 4 centenas de portugueses, com uma história de mais de 550 anos em que gerações e gerações dos seus antepassados mantiveram orgulhosamente a bandeira nacional hasteada bem alto, tem um significado que transcende as nossas frágeis e passageiras vidas.

A presença das Forças Armadas no Corvo representa também o apoio que a todos os portugueses deve merecer e que merece às Forças Armadas a Região Autónoma dos Açores e todos os Açorianos que vivem nestas maravilhosas e benditas ilhas e na Diáspora, espalhados pelo mundo, mas sempre pensando na sua Terra.

Permita-me que levante a minha voz para proclamar bem alto:

Vivam as Forças Armadas. Vivam os Corvinos, Vivam os Açorianos, Viva Portugal

 

 

Corvo, 8 de setembro de 2019

 

 

Pedro Catarino